Games na mira das empresas brasileiras

Os jogos eletrônicos made in Brazil foram assunto da coluna Conecte desta quinta-feira, com Ernesto Paglia.



Um mercado milionário e divertido está na mira das empresas brasileiras: o dos jogos eletrônicos. Os games made in Brazil são o assunto desta quinta-feira da coluna "conecte".

Quer dizer que você ainda acha que reunião de família é um troço chato? Tente outra vez. "Sérgio, você que saca", falam as crianças. Tio Sérgio, por favor. Bengala na mão, controle na outra, e seis décadas de vida digital muito bem vividas. "Eu era acostumado a jogar o Atari que era a sensação, veio no cartucho", relembra Sérgio Bastos.

Diante da tela de 50 polegadas, cabe a família inteira e mais uma penca de primos e vizinhos. "Jogo quando eles deixam né. tem que esperar eles irem dormir porque se eles acordarem com o barulho eles vem correndo jogar", afirma o pai da turma, Rogério Bastos.

No acervo da família Bastos Wagner só não tem jogo made in Brazil. Não é porquê eles não gostem. "A gente sente falta de personagens brasileiros, cenários brasileiros. Não tem, quase não existem", afirma o filho de Rogério

Mas esse jogo pode mudar. Já tem 50 produtoras de videogames país afora. "A gente tem começado a produzir para consoles menores e é ai que o Brasil se concentra. Jogos menores para computadores, jogos pra celulares, certamente, e jogos para videogames portáteis", explica o presidente da Abragames, André Penha.

"Freek" é um brasileiro de nome americanizado e quer ir fundo no mercado mundial de jogos. Ele nasceu da imaginação desta jovem empresa, incubada dentro da Universidade de São Paulo. A história é simples: um diabinho simpático encontra um tridente sagrado e resolve ir pro céu. No disputado mundo dos games, atingir o paraíso pode não ser tão simples. "A gente desenvolve e a gente precisa de uma publicadora para lançar os jogos. E ai a gente mostra isso em feiras internacionais pra ver se alguém se interessa em lançar o nosso jogo", afirma o Diretor da Insólita Abdução Estúdio, Daniel Garcia.

"Em uma analogia ao mercado fonográfico seria a gravadora. Então e nos seriamos a banda que estamos tentando levar um CD para o consumidor final, mas não é a própria banda que vai levar o produto. Ele vai ter um intermediário", diz o sócio da Insólita Abdução Estúdio, Winston.

Os grandes intermediários do mundo dos games são estrangeiros. Não há uma empresa nacional de porte que lance títulos verde-amarelos. É ruim por um lado, mas têm uma consequencia interessante: a mão de obra brasileira começa a ganhar espaço fora do país. Parte disso se deve ao preço, produzir um jogo aqui custa menos da metade do que nos Estados Unidos ou Japão. "O Brasil compete hoje, em termos de custo, com Índia. Nós custamos um pouco mais caro que a Índia, e com leste europeu, mas o Brasil tem uma vantagem em proximidade cultural, diz André Penha.

Entrar nesse mundo cheio de cifrões já virou questão oficial. O governo brasileiro resolveu apertar uns botões e o Ministério da Educação quer turbinar dez projetos de games educativos com bônus de até R$ 140 mil reais.

Quem diria. Houve época em que as pessoas ficavam fascinadas por estes dois risquinhos na tela, jogando esta mancha de lá pra cá. Este era o telejogo, o primeiro videogame fabricado por aqui na distante década de 1970. Era a versão brasileira do pong, feito pela Atari nos Estados Unidos, pois, hoje, os gráficos são tão perfeitos que é possível identificar pessoas de verdade representada nos jogos.

Para competir nesse mercado milionário, é preciso mais: áudio de cinema e boa jogabilidade, um conceito da indústria que mede a facilidade do uso. Tanta sofisticação, depende da mão de obra de primeira, de nível superior!

Para isso, já existem 6 cursos superiores de criação de videogames. Esta faculdade, que vai abrir filial em Brasília, já oferece o curso de jogos digitais. Filmamos o primeiro dia desta turma. o assunto, roteiro. Encontramos a turma do terceiro semestre no laboratório de informática. Olhos grudados nas telas coloridas pelos jogos que eles mesmos criaram.

Marcos Vinicius inventou o "Bubble Cave": o desafio é guiar a bolha de ar pela caverna sem que ela estoure. Jogo simples, com público alvo bem definido. "É um jogo praquele que não tem habito de ficar jogando, apenas como um passatempo de vez em quando, ou ta na fila do ônibus, alguma coisa, por isso esse tipo de jogo é bom pra celular ou outro portátil".

Boa jogada. Os jogos para celulares ocupam uma fatia cada vez maior na receita das empresas de telefonia. Os games custam de R$ 2 a R$ 10 reais. Desse valor, até 60% ficam com a empresa que desenvolveu o programa. Pode parecer muito, mas o dinheiro sempre é dividido por uma equipe grande. No mundo dos games ninguém trabalha sozinho. "Para fazer sozinho dá muito trabalho e quando terminar o trabalho vai estar até ultrapassado já o jogo de tanto que demora", explica o estudante, Marcelo Higa.

Ouviu bem? Fazer game dá trabalho e aprender, ainda mais! O alerta é dos próprios alunos. "Se alguém de repente quiser seguir essa área tenha em mente que não vai mais parar de estudar", diz Marcos.