Como transformar antigos arquivos analógicos em digitais

O avanço da tecnologia formou cemitérios em casa de vídeos em VHS, músicas em discos de vinil e em fitas cassete. Mas a mesma moderna tecnologia permite agora recuperar o que parecia perdido.



Dependendo da idade, mal dá pra acreditar, mas, meninos, eu juro: houve um tempo em que a máquina não tinha botão de play. Pra falar desse passado analógico, só voltando a fita. Para o dia em que aquele rapaz embatucado do início da história ainda estava, digamos, compactado dentro da barriga da mãe.

"É o último dia de barriga. Hoje é dia 20 de outubro de 89. Essa pode ser também a minha última declaração", diz Rozana Abud, a mãe.

Que medo, hein? Felizmente, Rozana teve um parto tranqüilo. Marcos, hoje, com 19 anos, cresceu forte e digitalizado ao lado da caçula de 14, Luciana. Os pais sempre foram moderninhos.

Para não perder a corrida da tecnologia, os Abud precisaram transferir os registros antigos para mídias modernas. Primeiro, do Super-8 para o supermoderno VHS.

“A gente foi mudando de tecnologia porque no final dos anos 80 não tinha ainda essa brilhante coisa do DVD pra gente”, diz Mário Abud, o pai.

Quando chegou o DVD, foi que a história deu um salto. De repente, não havia mais o medo do filme apodrecer nem da fita de VHS mofar, ou pior ainda, desmagnetizar.

Com o DVD, a informação deixou de ser analógica. Virou digital, mas, mesmo que os discos saiam de moda, a informação original está preservada porque foi transformada em arquivos de computador. A lembrança do vovô está garantida.

“O mais gostoso, agora, vendo o filme, eu ouço a voz do meu pai. Ele já faleceu há cinco anos aí, ele estava pleno. Conversando, mostrando a terra, o coração da gente parece que eles estão revivendo mesmo”, diz Rozana.

Imortalizar velhas lembranças é o que faz uma dessas empresas. Donos de uma coleção de players ancestrais, eles transformam quase qualquer som ou imagem em arquivo digital e resgatam antiguidades de fazer chorar.

“Têm casos onde o cliente ta tão ansioso pra ver o vídeo ou o filme digitalizado que ele não espera chegar em casa. Ele assiste aqui mesmo. Ele assiste e chora de emoção, de saudade, seja lá do que for”, diz Carlos Marachlian, diretor comercial, dono da empresa.

As caixinhas pretas contem tesouros do passado. Uma delas, por exemplo, uma fita VHS, tem uma reportagem minha de 1981. Eu quero que estas cenas do meu passado possam ser visíveis no futuro. Por isso, quero que elas sejam passadas para um DVD.

A forma mais simples é com o gravador de DVD. Basta ligar a saída de áudio e vídeo do velho VHS na entrada de áudio e vídeo do gravador. Toca lá, grava aqui direto.

É simples, mas também não oferece nenhum recurso. Exatamente aquilo que está no VHS vai para o DVD, sem menu ou qualquer outro opcional.

Outro jeito é passar a imagem direto para o computador. Basta ligar a saída de áudio e vídeo do VHS na entrada de áudio e vídeo do computador desde que ele tenha placa de captura de vídeo.

Abrir o programa de captura no computador, apertar play no videocassete e Rec no seu desktop. Pronto! As imagens serão transformadas em informação digital e gravadas no disco rígido. Depois, se quiser, pode gravar ou, como dizem os entendidos, queimar um DVD.

O gerente do departamento de engenharia da TV Globo afirma que a mudança para uma mídia digital garante a preservação dos arquivos.

“Mesmo que no futuro apareça uma mídia nova, DVD, memória, um hard disc num formato mais moderno você, simplesmente faz uma transferência de arquivo e a qualidade fica preservada”, diz Carlos Fini, gerente.

A senha para seu Renato viajar no tempo é puro romance. "A Lenda dos Beijos Perdidos" foi o musical que ensinou o funcionário público a amar a música, o cinema e os LPs! Ele tinha apenas 14 anos quando assistiu ao filme pela primeira vez.

“Eu lembro do tempo que eu sintonizava o radio, nas emissoras que passavam trilha sonora do filme”, diz Renato Brandão, aposentado.

Mas ouvir no rádio não bastava e, na primeira oportunidade, seu Renato comprou o precioso LPs com o registro de todos os beijos. Até hoje, o bolachão é uma raridade na pequena coleção do aposentado.

Novidade no século passado, a capa ainda trazia impressa uma série de cuidados para manusear o discão. Um ritual nostálgico para seu Renato.

Para não perder os preciosos discos de vinil, o aposentado decidiu se render à revolução digital. Copiou a pequena coleção para CD.

“Eu vi que ia chegar uma hora que, com o avanço da tecnologia, eu não ia mais ouvir esses discos”, diz o aposentado.

Deixar as velhas mídias é um caminho inevitável. Congeladas em forma de arquivo digital, as mais antigas lembranças ganham fôlego novo para resistir ao futuro.