Mercado de games cresce 30% em 2008

Os jovens não se contentam apenas com o desafio de jogar. Quem cresceu diante do computador também quer dominar a produção dos games.



Eles são craques no futebol. Pelo menos no campo virtual. Hugo e Helton não trocam o videogame por nenhum outro programa. A amizade e a paixão pelos jogos eletrônicos vêm da infância. A rivalidade, também.

Os jovens não se contentam apenas com o desafio de jogar. Quem cresceu diante do computador também quer dominar a produção dos games. Nas empresas, gente que há pouco saiu da adolescência compete num mercado milionário, que arrecadou quase R$ 90 milhões, no ano passado.

“O Brasil ao longo dos anos veio construindo uma imagem boa em relação aos jogos. Os jogos são vistos como mais criativos bem trabalhados. Então a gente tem um carinho muito grande quando constrói o jogo. Aqui dentro o jogo é como se fosse um filho”, diz Carolina Gondim, gerente de marketing.

Um filho de talento reconhecido, mas que ainda está engatinhando neste mercado de gigantes. A indústria brasileira de jogos eletrônicos está em plena expansão. Apesar da crise econômica mundial, o crescimento no ano passado foi de 31%.

A tendência é continuar crescendo. O problema é que neste jogo do mercado internacional de games o Brasil ainda tem muito que avançar. A nossa participação é pequena. Não chega a 1% da produção mundial.

A grande virada do setor, segundo os especialistas, depende de incentivos públicos que fortaleçam a indústria tecnológica.

Se na indústria ainda há muito que crescer, o impacto dos jogos já passou da conta na vida de muitas crianças e adolescentes. Eles são loucos por games.

“Aí quando a gente entra, para sair é complicado. Quando em casa não podia, o computador tava em reforma eu ia para lan house. Eu ficava cinco horas, seis horas na lan house. Gastava todo o meu dinheiro da mesada indo pra lan house”, fala uma criança.

Este é o outro lado do jogo: quando as crianças e adolescentes perdem a noção do tempo diante da tela do computador e ultrapassam todos os limites na hora de parar de jogar é hora de entrar em ação um novo personagem: o psicólogo.

Nos consultórios, a procura por um acompanhamento especializado para os alucinados por games é cada vez maior.

Os jogos provocam uma reação neuroquímica. O sistema de recompensa do cérebro é estimulado e ele libera substâncias que dão sensação de prazer. Por isso é cada vez mais difícil parar de jogar.

“A sensação é prazerosa, daí a tendência a cada vez mais transgredir, querer transgredir os horários”, explica Ana Nery Freire, psicóloga.

E aí é preciso que os pais fiquem atentos para que a diversão não se transforme em vício. Um problema de saúde pública, segundo os psicólogos, que já tem nome.

“Quando o jovem, ele passa cinco, seis, sete horas, às vezes vara a madrugada utilizando um destes instrumentos, a sistematização dessa utilização a gente considera como um ‘net vício’, ou seja, um vício na tecnologia da comunicação”, fala Carlos Brito, psicólogo.

Mas qual o tempo ideal para a criança ou adolescente jogar por dia? Ainda não há consenso. O importante é que o jogo não impeça a realização de outras atividades, como estudar, ter momentos de lazer, praticar esportes.

“Estudos revelam que o ideal é que a criança permaneça duas horas diárias para jogar”, orienta a psicóloga.

Fátima, mãe do Lucas, aprendeu que é preciso estabelecer regras. Agora o tempo máximo no computador é de uma hora por dia. “Proibir não pode. Ele tem que saber o horário de estudar e de ficar no computador, é preciso ter um limite de tudo”.

A medida surtiu efeito. Depois de repetir de ano, Lucas recuperou a vontade de estudar e, junto com ela, as notas. Ele tem uma dica pra quem ainda não encontrou o equilíbrio entre a vida real e a virtual.

“Para pensar no mundo. Porque ainda tem fora do computador tem estudo, tem várias coisas do que somente computador, né?”, fala.